Infelizmente, ainda existem Psis…
Ainda existe uma presença de nível significativo de Psis com preconceito extremo contra a diversidade sexual e de gênero, crenças éticas e psicológicas bem equivocadas sobre o que é ser LGBTI+, bem como a realização de práticas voltadas à mudança da identidade LGBTI+ com e sem o pedido dos pacientes.
O pior é que além disso, ainda ficam questionando e duvidando de tudo. Questionam se a pessoa realmente quer se assumir publicamente, se seus desejos são legítimos e até interpretam de forma errada os medos e as estratégias de enfrentamento dos pacientes.
Ainda existem Psis que têm a audácia de achar que a identidade LGBTI+ é falta de ter uma figura materna/paterna forte na vida da pessoa.
Que absurdo, né?
Mas na verdade, conforme vamos nos desenvolvendo, vamos ganhando mais ferramentas que nos ajudam a compreender nossa orientação sexual e/ou identidade de gênero, mas desde a infância, a gente já vive nossa sexualidade e identidade, mesmo que sem saber direito.
Crianças LGBTI+ vivem em um cenário de falta de referência para o desenvolvimento saudável de sua identidade, uma vez que são muito recentes as referências positivas de diversidade sexual e de gênero no cotidiano e na mídia.
A heterocisnormatividade é um sistema-ideologia que veicula diariamente a ideia de que se a gente não é hétero e cis, tem algo de errado com a gente, que a gente desviou do caminho “normal”.
Assim, um espaço que deveria comunicar saúde se torna um lugar que só confirma as violências que a gente sofreu durante a vida toda.
Ainda existem Psis que vêem a identidade LGBTI+ como consequência de um trauma vivenciado na infância e/ou adolescência.
Mas isso é puro suco do senso comum, e Psi ética nenhuma deve fazer uso do senso comum em sua prática profissional.
E existem 3 imperativos muito importantes nessa visão:
- O de que as pessoas devem necessariamente se atrair sexualmente e, portanto, gostar de sexo;
- O de que o gênero e a expressão de gênero são linearmente conectados ao sexo;
- O de que a heterossexualidade é o caminho de desenvolvimento da sexualidade saudável e, portanto, que deve ser seguido.
Por causa disso, tais Psis sempre tentam explicar qualquer coisa fora disso como um resultado de eventos traumáticos e desprazerosos.
Mas Psis não estão a salvo de internalizarem padrões LGBTIfóbicos ao longo da vida, principalmente se tiverem vivido em famílias fechadas para diversidade sexual ou frequentado igrejas com discursos homofóbicos.
Então, quando um paciente LGBTI+ chega no consultório de um desses Psis que não têm o preparo ideal para lidar com diversidade sexual e de gênero, a primeira coisa que vem à mente é pensar que a pessoa sofreu algum tipo de abuso sexual e/ou trauma.
Também existem Psis que associam as identidades LGBTI+ a transtornos mentais.
E isso é um absurdo! Psis que tentam encaixar a diversidade sexual e de gênero em doenças e querem corrigir tudo.
Essas atitudes corretivas da diversidade sexual e de gênero podem estar relacionadas à falta de formação específica, à criação em famílias fechadas, a influências religiosas e políticas, entre outros fatores que afetam o modo de pensar e agir dos Psis em relação às pessoas LGBTI+.
O sofrimento e adoecimento psíquico não vêm de ser LGBTI+ em si, mas sim da LGBTIfobia internalizada e institucionalizada, da marginalização e violência que a gente enfrenta.
Psis precisam entender isso e parar de usar práticas reducionistas, deterministas e discriminatórias. Têm que levar em conta que a violência que pessoas LGBTI+ sofrem, acontece em diferentes dimensões, com diferentes aspectos e em diferentes ambientes em que vivem.
Psis devem reconhecer, validar e acolher o sofrimento causado pelo preconceito e pelo estigma, sem culpar a vítima. É isso que eles precisam fazer se realmente querem ajudar a saúde mental de pessoas LGBTI+.