Spoiller: NÃO!
Por que não?
1º: Psis devem atuar segundo os princípios éticos da profissão, pautando seu trabalho no respeito à singularidade e diversidade de pensamentos, crenças e convicções de pessoas e grupos […];
2º: Psis devem utilizar princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional, e considerar o seguinte:
I – a laicidade como pressuposto do Estado Democrático de Direito, fundado no pluralismo e na garantia dos direitos fundamentais [art. 5º da Constituição Federal de 1988];
II – os aspectos históricos e culturais das experiências espirituais e religiosas;
III – a dimensão da religiosidade e da espiritualidade como elemento formativo das subjetividades e das coletividades;
IV – os aspectos históricos e culturais dos saberes dos povos originários, comunidades tradicionais e demais racionalidades não-hegemônicas presentes nos contextos de inserção profissional;
V – as vivências a-religiosas, agnósticas e ateístas de indivíduos e grupos.
3º: A atuação Psi deve se basear no “respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade”, assim como a eliminação de quaisquer formas de discriminação.
Psis NÃO PODEM:
I – praticar/ser conivente com atos de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão à crença religiosa;
II – induzir a crenças religiosas ou a qualquer tipo de preconceito, no exercício profissional;
III – usar ou favorecer o uso, de práticas psis como instrumentos de castigo, tortura ou qualquer forma de violência que atentem contra a liberdade de consciência e de crença religiosa, ou que se baseiem em alegações de preceitos de fé religiosa;
IV – associar conceitos, métodos e técnicas da ciência psicológica a crenças religiosas;
V – usar instrumentos e técnicas psis para criar, manter ou reforçar preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações em relação à liberdade de consciência e de crença religiosa;
VI – usar título de Psi associado a vertentes religiosas;
VII – exercer ações que promovam ou legitimem práticas de intolerância/racismo religioso contra indivíduos e grupos de matriz africana, indígenas e tradicionais;
VIII – usar, como forma de publicidade e propaganda, suas crenças religiosas.
IX – ter ações que promovam fundamentalismos religiosos e resulte em racismo, LGBTI+fobia, sexismo, xenofobia, capacitismo ou quaisquer outras formas de violação de direitos;
Temos de considerar o contexto:
Devemos analisar crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural; não só a qual estamos, mas o contexto que o paciente se encontra também.
Por mais que o Brasil seja recheado de religiões, ainda existem discriminações contra a liberdade religiosa. Isso afeta principalmente os grupos religiosos afro-brasileiros, as religiões minoritárias e o ateísmo. Até podem existir outras religiões, desde que sejam cristãs.
Laicidade não significa evitar o tema religião:
Psis fazerem uso da laicidade não é evitar o tema religião nos atendimentos. Até porque, existe uma importância nas produções subjetivas que podem ser derivadas do encontro entre a Psicologia e as crenças espirituais de cada pessoa.
O discurso de ódio por alguns movimentos neopentecostais, cujo projeto teopolítico elegeu como alvo de perseguição as religiões de matriz africana em defesa violenta de seus interesses cristãos (dominação econômica, política e cultural com o extermínio em massa desse e outros alvos).
E os alvos são as populações marginalizadas historicamente: pessoas negras, afro-indígenas, pobres, mulheres, pessoas com deficiência e LGBTQIA+, entre outros grupos minoritários.
Sabe-se que a intolerância religiosa se faz presente, mas faz parte da conduta ética desenvolver uma postura crítica em momentos em que o saber psicológico baseado na ciência e no respeito aos direitos humanos é atacado pelo fundamentalismo religioso.
A atuação Psi precisa partir de um olhar respeitoso aos mais diversos conhecimentos populares e tradicionais presentes em nosso território nacional.
Psis precisam realizar uma escuta sensível e respeitosa às realidades espirituais, mas também mantendo atenção às dinâmicas ali presentes que possam vir a violar direitos humanos fundamentais.
Se você tiver conhecimento de algum/a/e Psi que esteja atuando de forma antiética, promovendo tais práticas ou sendo conivente com esse tipo de absurdo, DENUNCIE!