Dia das Bruxas Queer!
O Halloween (ou Dia das Bruxas) tem origem nos povos celtas que habitavam regiões da Europa Central séculos atrás. Na época, era comum celebrar o Samhain – festa de 3 dias [30/out a 2/nov] para agradecer pela abundância da colheita do ano e celebrar o fim do verão. O festival marcava o início oficial do inverno, chamado por eles de “estação das trevas”. Segundo a crença, o mundo dos espíritos e deuses se tornava visível à humanidade, com o retorno de antepassados mortos e outros espíritos durante esses dias. E por receio de serem vítimas de algumas brincadeiras, feitas pelas divindades que cultuavam e outras entidades, se “disfarçavam” de animais e bestas, para se protegerem de qualquer espírito que pudessem vir a atormentá-los. Mas e quais são as entidades que atormentam pessoas LGBTI+ até hoje, e infelizmente não só no Halloween? Binarismo: Entidade binária/dual, que em suas versões mais desenvolvidas, surge como um polvo de tentáculos infinitos, que pode dar vida à outras entidades como “Tudo bem ser gay/lésbica, mas não precisa ser afeminado/masculina”, “quem é mulher/homem da relação?”, “não sou nem curto afeminados”, “como você tran$a?”, “mas você não era gay/lésbica/hétero?”, “tem certeza que não é uma fase”, “mas é porque nunca ninguém te pegou de jeito”. Essa entidade cega muitas pessoas e as fazem enxergar apenas duas formas de ser, viver e se relacionar: Ou se é homem cis ou mulher cis; ou se é hétero ou se é homossexual; ou é ativo/a ou passivo/a… Prejudica demais na autoestima e relacionamentos da pessoa LGBTI+ além das próprias relações dentro da comunidade LGBTI+. Tem certeza que não é uma fase?: Um tipo de entidade que parece inofensiva ao surgir como uma dúvida, que pode até ser genuína e na “boa intenção”, mas que pode trazer diversas invalidações e invisibilizações da identidade LGBTI+ nos mais diversos ambientes, além de afetar na integração da identidade da pessoa LGBTI+ que passa a se questionar se realmente não é uma fase, se não está confusa e se é isso mesmo. Um dos maiores prejuízos que tal entidade pode gerar, é a dificuldade da pessoa se revelar LGBTI+ e sair do armário, pois uma “perguntinha” de nada, pode fazê-la atrasar seu desenvolvimento mais autêntico e saudável. Como você transa? Entidade selvagem que aparece toda vez que uma pessoa trans se revela à alguém ou em algum espaço. É um dos tentáculos da entidade binária que atinge pessoas LGBTI+, e em especial pessoas trans. Faz com que pessoas cis/het tentem fantasiar e imaginar práticas s&xuais fora da héterocisnormatividade. Pode vir a dar pane no CIStema delas e fazer com que saiam perguntando sobre a intimidade s&xual dos outros por aí, se achando no direito de perguntar e saber. Hétero com autoestima mais de 8 mil: É aquela pessoa cis/hétero que quando descobre uma pessoa LGBTI+ próxima comenta “por mim de boa você ser LGBTI+, só não dá em cima de mim”. O perigo não está só na fadiga mental que a pessoa LGBTI+ vivencia no momento devido a audácia do cis/het achar que é a coisa mais incrível do universo que qualquer pessoa se interessaria. Mas também, na possibilidade da pessoa cis/het se sentir ameaçada de alguma forma e se defender atacando – seja de forma verbal ou física. Fiscal de carteirinha: Aparece sempre quando uma pessoa Bi/Pan fica/namora/casa com alguém pra questionar “ué, mas você nera gay?” ou “achei que tu gostava de mulher”. Tem tal comportamento pela dificuldade de entender as variações da orientação sexual, sua visão é dual, binária, tipo daltônica – preto e branco – ou você é hétero ou você é homossexual, os 2 ou mais que isso não dá. Essa entidade gera prejuízos na autoaceitação de orientações plurissexuais, como bifobia internalizada, afetando seriamente a autoestima e a qualidade das relações. Quem tira/empurra LGBTI+ pra fora do armário: Essa entidade é muito versátil, ela pode surgir incorporada numa pessoa cis/het ou em outra pessoa LGBTI+. Em ambos os casos, atropelam o próprio processo de autoconhecimento, autoidentificação e desenvolvimento da identidade da pessoa LGBTI+. Quando em uma pessoa cis/het, se dá no movimento de exposição, humilhação, culpabilização e até de punição da diversidade. Quando em outras pessoas LGBTI+ se dá num processo de estratégia de auto sobrevivência – se prestam atenção no outro, eu passo despercebido, com a influência de uma das maiores entidades: a LGBTIFobia internalizada. ATENÇÃO: Além de versátil, essa entidade é um pouco “mais fácil” de ser enfrentada, basta você se situar na sua vida e parar de querer cuidar da vida alheia. Não sou nem curto afeminados: Entidade que afeta mais especificamente homens bi e gays (cis ou trans). Acaba vindo acompanhada de uma outra entidade chamada “hipermasculinidade”, que leva a pessoa ter atitudes de compensação diante de uma visão negativa (internalizada) da orientação sexual. Além dessa compensação, faz o homem bi/gay (cis ou trans) ter uma postura de antiafeminação contra outros homens bi/gay (cis ou trans). Também dá maior importância à masculinidade de suas parcerias. Essa entidade acaba por reproduzir demais o machismo, misoginia e LGBTIfobia que existe na estrutura social. E prejudica na construção de relações autênticas e saudáveis, além é claro, de atrapalhar na vivência mais autêntica do homem bi/gay (cis ou trans). Marmita de Casal: Tal entidade aparece quando um casal decide vivenciar uma experiência menos monogâmica na relação, introduzindo outras pessoas na relação. O prejuízo se dá, quando esse casal não se comunica adequadamente, tanto entre si quanto com a pessoa que irá participar, sobre limites e demais combinados. E passam a “usar” a 3ª pessoa, objetificando ela e lhe colocando na obrigação de tapar “buracos” que já existiam na relação. Essa pessoa corre o risco de ter a autoestima rebaixada e a vivenciar dificuldades para se relacionar de forma mais autêntica e profunda em outras relações, com o medo de reviver o que passou com o casal. Meio LGBTIfóbico: Essa entidade aparece quando a pessoa LGBTI+ convive em algum ambiente que ela sabe ou desconfia que não seria aceita por
Psicóloga pode fazer Constelação Familiar?
Alerta de Spoiler: Não! Por que não? A prática da Constelação Familiar não se configura como método ou técnica psicológica e apresenta incompatibilidades éticas com o exercício profissional da Psicologia. Das responsabilidades da Psi, encontradas no Código de Ética da Psicologia, no Art. 1º item c: A Psi deve prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentadas na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional. Ela se sustenta em bases epistemológicas frágeis, onde cada constelador tende a interpretá-la e aplicá-la de maneira diversa, o que favorece o aparecimento crescente de diferentes práticas, com promessas apelativas de solução de problemas, inclusive associadas a vidas passadas ou à revelação das soluções de problemas por meio da observação do comportamento de animais. Mas faz tão mal assim? Diversos pressupostos teóricos da Constelação Familiar – entre os quais: a concepção de casal baseada no patriarcado e na héterocissexualidade compulsória; a naturalização da desigualdade de gêneros nas relações conjugais e familiares; a naturalização do vínculo biológico sem considerar aspectos históricos, sociais e políticos que constituem as famílias; a exclusão de diferentes expressões familiares – mostram-se contrários a diversas Resoluções e outras normativas do Sistema Conselhos de Psicologia, além de leis que possuem interface com o exercício profissional da categoria. Ela não tem sigilo! A técnica das Constelações Familiares é realizada muitas vezes com a transmissão aberta das sessões grupais e individuais, inclusive online e pelas redes sociais, de modo que qualquer pessoa pode acessar e assistir ao conteúdo que está sendo repassado. Tal conduta é incompatível com o sigilo profissional, conforme dispõe o art. 9º do Código de Ética da Psicologia, segundo o qual: “É dever da Psi respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional” (CFP, 2005). Ela viola Normas e Direitos! Existe descompassos entre a Constelação Familiar com o conteúdo da Resolução CFP nº 1, de 22 de março de 1999, que “Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual”, a qual consolida como referencial técnico e ético para o exercício da profissão uma perspectiva despatologizante da diversidade sexual e de gênero. Tal prática pode sugerir o desrespeito às Referências Técnicas para atuação de psicólogas em Programas de Atenção à Mulher em situação de Violência. Segundo essas referências técnicas: Todas as possibilidades de atuação da Psi devem se orientar pelo fortalecimento do protagonismo das mulheres e pelo entendimento multidimensional da violência, como produto das relações desiguais legitimadas e produzidas nas diferentes sociedades. E também com Resolução CFP nº 1, de 29 de janeiro de 2018, que estabelece normas de atuação para Psis em relação às pessoas transexuais e travestis; Com a Resolução CFP nº 8, de 7 de julho de 2020, que estabelece normas de exercício profissional da psicologia em relação às violências de gênero. E com a Resolução CFP nº 8, de 17 de maio de 2022, que estabelece normas de atuação para Psis em relação às bissexualidades e demais orientações não monossexuais. A Constelação Familiar viola as diretrizes normativas sobre gênero e sexualidade consolidadas pelo Conselho Federal de Psicologia. Reproduzindo conceitos patologizantes das identidades de gênero, das orientações sexuais, das masculinidades e feminilidades que fogem ao “padrão” imposto para as relações familiares e sociais. E fere nossos Princípios Fundamentais! No Código de Ética da Psi, nós temos 7 Princípios Fundamentais, onde a Constelação Familiar fere diversos, com destaque para os seguintes: I. a Psi vai basear seu trabalho no respeito, na promoção da liberdade, dignidade, igualdade e integridade do ser humano, usando a Declaração dos Direitos Humanos como base. II. a Psi vai trabalhar buscando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas, contribuindo para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. III. a Psi atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.” A bicha é audaciosa! A Constelação Familiar admite explicações ou justificações para o uso da violência como mecanismo para restabelecimento da uma hierarquia violada, ao passo que outros atribuem às meninas e mulheres a responsabilidade pela violência sofrida. Também viola a legislação federal sobre direitos de determinados grupos sociais, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – que vê crianças e os adolescentes como sujeitos de direitos. Enquanto a Constelação Familiar reconhece o lugar da infância e da juventude por um viés conservador, preso à naturalização da falta de direitos e de submissão através de violência frente aos genitores. Saúde Mental não é Fast Food! Outro ponto que pode resultar em infração ética, consiste no fato de que a Constelação Familiar é uma abordagem utilizada em diversos contextos e alguns processos são “resolvidos” em uma única sessão. Mas esse tipo de sessão da Constelação Familiar pode causar de forma brusca, uma emergência de estados de sofrimento ou desorganização psíquica, e essa técnica não abrange conhecimento técnico suficiente para o manejo desses estados. Conflitando com todos os artigos do Código de Ética comentados anteriormente e muito mais! Mas Atenção! A Psi em sua prática enquanto Psi, NÃO PODE fazer uso da Constelação Familiar. Mas enquanto pessoa, indivíduo, fora da atuação como Psi, é livre. A Psi, não pode divulgar que faz Constelação Familiar juntamente da divulgação de seu trabalho enquanto Psi. Mas como pessoa, indivíduo, fora da atuação Psi, pode. Se a pessoa tiver 2 perfis nas redes sociais: 1 pra Psi e outro pra Constelação Familiar, ela pode. Não pode fazer a divulgação junto. Fica a seu critério escolher uma Psi que atue com Constelação Familiar SEPARADO da atuação Psi. Ela realmente vai separar as crenças da Constelação Familiar na hora que tiver de atuar com a neutralidade e ética da Psicologia? Deixo esse questionamento com você. E deixo também, a referência para a produção deste conteúdo: A NOTA TÉCNICA CFP Nº 1/2023, que “Visa a orientar psicólogas e psicólogos