No decorrer deste mês de agosto, campanhas de incentivo à amamentação vêm ocorrendo em todo o país. O ‘Agosto Dourado’ simboliza o padrão ouro de qualidade do leite materno, considerado o alimento mais completo, contribuindo para a melhora nutricional dos bebês por sua rica composição de anticorpos.
No entanto, eu observo que, além da campanha, o que também é divulgado de maneira velada, contribuindo para uma “idealização da sociedade”, é a imagem da “mãe sagrada”, “próxima à de uma santa, Nossa Senhora”. Em contraste com essa idealização, gostaria de destacar que, segundo dados de 2016 do então Ministério de Direitos Humanos, o Brasil registrou 396 ocorrências por dia — ou 16 a cada hora — de maus-tratos a crianças e adolescentes.
Boa parte desses maus-tratos são oriundos de mães narcisistas. O narcisismo, é um transtorno psicológico que pode ser uma das causas de comportamentos abusivos de algumas mães. As mães narcisistas são manipuladoras, possuindo um comportamento de ‘duas caras’. Diante da sociedade apresentam uma imagem de vítimas extremamente sofredoras, fazem caridade e até participam de eventos religiosos, mas, dentro de casa, cometem abusos cruéis contra os filhos, sejam físicos ou emocionais.
A mãe narcisista, caracteriza uma figura materna sem empatia e respeito pelos limites pessoais dos filhos, e que acredita que estes existem apenas para atender às suas necessidades e desejos. Elas não pedem desculpas, pois não têm a humildade de assumir que erram, e, quando pedem, é em alguma situação em que podem tirar vantagem. Muito menos aceitam desculpas, pois, quando os filhos pedem desculpas, em vez de aceitarem e amenizarem a situação, elas aproveitam a desculpa para pisar e maltratar ainda mais os filhos.
Eu atendo, em meu consultório, jovens e adultos vítimas tanto do abuso materno quanto de uma sociedade que trata essas mães como santas. E essas vítimas não são ouvidas, não têm as suas angústias validadas, pois, quando dizem algo, escutam ‘Ah, mas ela é sua mãe’, ‘Mãe é mãe’ ou ‘Quando você for mãe, você vai entender’, sendo vistos, muitas vezes, como ingratos e desrespeitosos. Esse tipo de relacionamento pode ocasionar baixa autoestima e autoconfiança, insegurança, necessidade de agradar aos outros, ansiedade, baixa autonomia, entre outros.
Nem sempre as mães narcisistas têm consciência desse estado, e que muitas delas nasceram e cresceram em lares abusivos, acreditando então que certos tipos de comportamentos são normais e aceitáveis. A investigação sobre um possível quadro deve ser feita por profissionais da área de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, e tanto as mães quanto os filhos podem e devem buscar por psicoterapia para lidar com os possíveis traumas.
Filhos de mães narcisistas podem perder a sua identidade, não sabendo do que realmente gostam, o que querem para a sua própria vida ou o que precisam para serem felizes. Em vez de fazerem escolhas com base no que sentem, baseiam-se no que os outros vão sentir e pensar. E, ao menor sinal de crítica em relação a uma de suas escolhas, os deixam totalmente inseguros. A terapia se faz necessária para a recuperação psicológica e emocional. É importante buscar a ajuda de um (a) profissional para dar um novo significado às vivências, para que não mais interfiram em suas relações ou saúde mental.